segunda-feira, 4 de março de 2013

O SIGNO SEMIÓTICO NA CONCEPÇÃO DE CHARLES SANDERS PEIRCE


O SIGNO SEMIÓTICO NA CONCEPÇÃO DE CHARLES SANDERS PEIRCE

José Fernandes da Silva

A semiótica pode ser definida como a teoria geral dos signos e dos sistemas de signos. Atualmente, o conceito de signo está relacionado com outras, duas diferentes concepções: a do lingüista suíço Ferdinand de Saussure (1969), fundador da lingüística moderna e introdutor dos princípios fundamentais da semiologia, e a do filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce (1993), criador da semiótica propriamente dita. Em vista disso, iniciaremos este estudo falando da diferença entre estas duas concepções, em relação ao conceito de signo.

1. O conceito de signo segundo Saussure e segundo Peirce

A diferença básica entre as duas concepções está, principalmente, no fato de que, se na concepção de Saussure o conceito de signo é o do signo verbal, na concepção de Peirce é o do signo em geral, não importa de que espécie. Isso significa que, se no primeiro caso o signo é, antes de tudo, a palavra (principalmente oral), no segundo caso ele é qualquer coisa que representa alguma outra coisa para alguém. Além disso, se na concepção saussureana o signo ele é um elemento em que se correlacionam apenas dois outros elementos, chamados de significante e significado, na concepção peirceana o signo é um elemento em que se correlacionam três outros elementos, chamados de representamem, objeto e interpretante.

Se na visão de Saussure o signo é uma unidade entre um som verbal (ou uma imagem acústica) e uma idéia (ou uma imagem conceptual), o significante é este som verbal (ou esta imagem acústica), e o significado, esta idéia (ou esta imagem conceptual). E se na visão de Peirce o signo é qualquer coisa que representa alguma outra coisa para alguém, o representamem é esta coisa que representa, objeto é esta coisa que é representada; o interpretante (que não existe na definição de signo elaborada por Saussure) é, por sua vez, uma terceira coisa que, surgindo na mente do intérprete no momento em que ele percebe aquela primeira coisa, faz com que ele a interprete desta maneira, como sendo de fato não uma coisa em si, mas uma coisas que representa uma outra coisa.

A correlação entre os três elementos é, no entanto (como o próprio Peirce sempre procurou demonstrar) dinâmica e, em vista disso, devemos representá-la deste outro modo:

Neste esquema, temos o seguinte:

Se A (o representamem) representa B (o objeto) é porque C (o interpretante) faz com que ele seja percebido e, ao mesmo tempo, interpretado desta maneira, quer dizer, como sendo de fato uma representação de B. Nesse sentido, se C (o interpretante) não existisse, A (o representamem) não apareceria como uma representação de B (o objeto). E a explicação para isso é simples: “uma coisa só aparece como signo de uma outra coisa se, na mente de quem a percebe, surgir uma terceira coisa (vinda de experiências anteriores) a partir da qual a interpretação daquela primeira coisa possa ser realizada. E é justamente por isso que, na visão de Peirce, o signo é uma tríade, e não uma díade, como na de Saussure.”

2. Divisão dos signos em verbais e não-verbais, simbólicos, icônicos e indiciais

Os signos podem ser divididos em várias categorias; mas, neste estudo, será levado em conta apenas duas, consideradas como as mais importantes. A primeira divisão baseia-se na natureza das coisas em que os signos aparecem; e, a segunda divisão, na natureza da relação entre as coisas em que os signos aparecem e as coisas que eles representam. No primeiro caso, os signos dividem-se em signos verbais e não-verbais; no segundo caso, em signos simbólicos, icônicos e indiciais.

3. Signos verbais e não-verbais

Os signos são verbais quando as coisas em que eles aparecem são palavras ou construções delas decorrentes, e podem ser de duas espécies: verbais orais e verbais escritos. Eles são não-verbais, quando as coisas em que eles aparecem são fenômenos diferentes de palavras ou construções deles derivadas, e podem ser de cinco diferentes espécies: visuais, auditivos, táteis, olfativos degustativos. E já que a noção de não-verbal surge por oposição à verbal, podemos dizer que não-verbais são aqueles que, embora manifestos através de outros fenômenos, diferentes de palavras, o papel que desempenham é idêntico ao desempenhado pelas palavras. Quer dizer, é também o de meio de representação. Num texto narrativo-literário, os signos verbais aparecem em dois diferentes planos, que são o da escritura constituída de signos verbais grafovisuais, e o da narração, constituída de signos verbais fonoauditivos; os não- verbais aparecem num único plano, que é o do enredo, constituído de signos não-verbais figurativos ou imagéticos.

3.1. Signos simbólicos, icônicos e indiciais

a) Signos simbólicos

Os signos são simbólicos quando a relação entre as coisas em que eles aparecem e as coisas que eles representam é de caráter convencional e, por conseguinte, baseada apenas num acordo entre os sujeitos comunicantes, no sentido de que isto, embora não tenha nada a ver com aquilo, deve ser aceito como a sua representação. É com base neste fator (a convenção) que o animal cachorro pode ser representado não apenas pela palavra cachorro, no idioma português, mas também pela palavra, “dog” no idioma inglês, por exemplo.

b) Signos icônicos

Os signos são icônicos quando a relação entre as coisas em que eles aparecem e as coisas que eles representam é de caráter imitativo e, portanto, baseada não mais numa simples convenção, mas em dada semelhança entre os dois tipos de coisas, no sentido de que, se “isto” parece com “aquilo”, se “isto” se lembra imediatamente “daquilo”, então a primeira coisa pode ser tomada como representação da segunda coisa. É com este segundo fator (a semelhança entre os dois tipos de coisas) que a figura (referente ao desenho, à fotografia, à escultura etc.) do animal cachorro pode ser tomada como representação do próprio animal cachorro; as cores verde, amarela e azul (com pintinhas brancas), que aparecem na bandeira de nosso país, podem ser tomadas como representações das riquezas vegetais e minerais nele existente, bem como do céu límpido e iluminado que, nas noites de estio, cobre tudo isso.

c) Signos indiciais

Os signos são indiciais quando a relação entre as coisas em eles aparecem e as coisas que eles representam é de caráter não mais convencional, nem tampouco imitativo, mas associativo, no sentido de que, se isto costuma vir sempre associado (quer dizer, junto, conectado ou vinculado) àquilo, de maneira que, percebendo-se isto, lembra-se imediatamente aquilo, então a primeira coisa pode ser tomada como representação da segunda coisa. É com base neste fator (a associatividade) que, por exemplo, os rastros de um cavalo podem ser tomados como representação não só das patas do cavalo, mas também do próprio cavalo e, inclusive, do cavaleiro que, possivelmente, nele vai montado, e ainda da direção que ele tomou; as nuvens que aparecem no céu, tornando-se paulatinamente mais escuras, podem ser tomadas como representação da chuva que, possivelmente, irá cair; os sons que vêm de um bosque situado nas proximidades da estrada por onde vamos passando podem ser tomados como representações da cachoeira que, certamente, ali existe; o cheiro que vem dos fundos de uma casa não muito distante do local por onde estamos transitando podem ser tomado como representação do jantar que, sem dúvida, ali está sendo servido; o sabor do cafezinho que, quando estamos de visita a uma casa, nos é trazido lá da cozinha, pode ser tomado como representação da habilidade (ou inabilidade) da cozinheira.

Bibliografia

•PEIRCE, Sharles Sanders. Semiótica e Filosofia. Introdução, seleção e

tradução de Octanny Silveira da Mota e Leonidas Hegenberg. São Paulo,

Cultix, 1993.

•SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. Tradução de

Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein, prefácio de Isaac

Nicolau Salum. São Paulo, Cultrix, 1969.

 

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